sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Lúpus, uma doença quase desconhecida

Clarice Monteiro – REPÓRTER




Manchas avermelhadas na pele, febre prolongada, fraqueza, dores ou inchaço nas articulações, cansaço, perda de peso. Queixas generalizadas como essas de pessoas que procuram médicos podem caracterizar uma virose ou uma infecção. O que muitos desconhecem é que podem indicar o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), conhecido popularmente apenas como Lúpus, uma doença reumática autoimune em que o organismo agride o próprio corpo.
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia, apesar de não existirem estudos epidemiológicos sobre o Lúpus, estima-se que existam de 16 a 80 mil casos da doença no Brasil. Estudos realizados nos Estados Unidos mostram uma prevalência de LES de um caso para cada 10 mil habitantes.
Diferente da concepção comum, a LES não atinge apenas ossos e articulações, mas pode comprometer vasos sanguíneos, cérebro, pulmão, coração e, em casos extremos, pode levar à morte.
A patologia, até há pouco tempo tida como rara pela falta de conhecimento sobre seus sintomas e dificuldade do diagnóstico, está se tornando mais conhecida – seja pela influência de celebridades, como a cantora Lady Gaga, que admitiu recentemente ter Lúpus ou pelos avanços na medicina e maior disponibilização de informações na rede.
Ainda assim, segundo o reumatologista Carmo de Freitas, outros avanços precisam acontecer. “Sabemos das alterações provocadas pela doença, mas não o gatilho, a causa. Existe um fator genético, mas não dá para afirmar que a pessoa vai desenvolver, por ter gene. Outra questão é a falta de constância nos tratamentos. As pessoas começam e, quando melhoram, param de tomar a medicação. É preciso entender que é doença crônica, não tem cura, mas pode ser controlada”, afirmou.

Doença manifesta-se em mulheres

Valter de Paula
A manicure Lázara Vilela, que convive com Lúpus há 26 anos, já teve até alunicações

O Lúpus acomete preferencialmente mulheres jovens, embora possa ocorrer em qualquer idade. A doença é mais frequente entre os 20 e 45 anos, com maior incidência por volta dos 30 anos, e afeta 12 vezes mais o sexo feminino do que o masculino.
Na manicure Lázara Vilela da Silva, hoje com 39 anos, a doença começou a se manifestar por volta dos 13 anos. Ela sentia dores nos joelhos, dedos das mãos e dos pés. Tratadas com anti-inflamatórios, as dores cessavam, mas voltavam periodicamente. Aos 20 anos, devido a uma complicação pulmonar, Lázara saiu de Araxá, onde morava, para buscar tratamento em Uberlândia, onde ficou internada por cerca de dois meses, até descobrir que tinha a doença. “Quando falaram em Lúpus, nem sabia o que era isso. Depois que fui me informando”, disse.
“Tudo o que eu tive não deixou sequela, hoje levo uma vida normal. Mas conheço pessoas que hoje têm doença renal, tiveram que passar por transplante. Tenho só a agradecer.”

Entre os sintomas, há alucinações

O tratamento da doença Lúpus varia de acordo com as manifestações apresentadas em cada paciente. Segundo o reumatologista Carmo de Freitas, são utilizados antimaláricos, anti-inflamatórios, corticoesteroides e drogas imunossupressoras. “Há pacientes que respondem bem, quase sem medicação. Em outros, independente do bom tratamento, a doença evolui”, afirmou.
No caso da manicure Lázara Vilela, a doença atacou o cérebro, em 2007, desencadeando uma psicose lúpica. “Fiquei mal, tive alucinações e depois vasculite, com lesões na pele, nas mãos”, afirmou. Para voltar a se estabilizar, a manicure ficou internada por 45 dias, tomou uma série de medicações e teve que fazer acompanhamento psiquiátrico e neurológico por cerca de um ano e meio.
“Enfrentei preconceito quando fiquei careca, as unhas da mão caíram, as pessoas olhavam, mas não dei moral. Tem é que seguir o tratamento à risca, passar protetor solar, viver de forma saudável e ocupar o tempo, para não ficar pensando na doença. Tem muito a ver com o psicológico”, disse.
A manicure retorna ao médico de três em três meses, para dar continuidade ao tratamento.
Há dificuldades de diagnóstico

Divulgação
Francieli Ribeiro e a tia, Ester Maria, que morreu aos 40 anos, em decorrência de Lúpus, sem perceber os sintomas

Os sintomas que se manifestam pelo corpo todo dificultam o diagnóstico da doença Lúpus. “É difícil caracterizar a doença no início. As manchas vermelhas no rosto são fáceis, mas nem todos os pacientes apresentam. Há casos em que a pessoa procura médicos porque tem mudança radical de comportamento, nem sempre é identificado Lúpus, comprometendo o sistema neurológico”, afirmou o reumatologista Carmo de Freitas.

A demora no diagnóstico pode ser fatal. É o que comprovou a esteticista Francieli Ribeiro de Oliveira, de 21 anos. Segundo ela, a tia Ester Maria Ribeiro faleceu aos 40 anos com suspeita de Lúpus. Ela teria começado a perceber manchas avermelhadas acima da sobrancelha por volta dos 32 anos, tinha febres altas e cólicas renais com frequência. “Por ter pedra nos rins, ela tomava Buscopan, chás recomendados por avós, mas as dores sempre voltavam”, afirmou a sobrinha.
Em uma das crises, Ester foi para o hospital com 42 graus de febre e ficou internada por dois dias. Constataram que era uma infecção provocada por uma bactéria. “Depois, ela emagreceu, as manchas ao redor da orelha se intensificaram, até que em dezembro ela teve outra crise e não conseguia respirar. Foi para hospital, à noite, teve parada cardíaca e faleceu. Naquele mesmo dia, à tarde, ligaram  avisando que podia ser Lúpus, mas já era tarde.”

Saiba mais 
Lúpus Eritematoso Sistêmico
Sintomas
- Lesões de pele avermelhada nas maças do rosto e dorso do nariz (asa de boboleta). Também nos antebraços e região do decote. Frequentemente pioram após tomar sol.
- Dor e inchaço nas articulações.
-Inflamação de pleura ou pericárdio (membranas que recobrem o pulmão e o coração.
- Inflamação no rim (nefrite) ocorre em cerca de 50% dos casos.
- Diminuição de glóbulos vermelhos (anemia), glóbulos brancos (leucopenia), dos linfócitos (linfopenia) ou de plaquetas (plaquetopenia).
- Inflamações no cérebro, causando convulsões, alterações do comportamento (psicose) ou do nível de consciência; e também quadros de comprometimento de nervos periféricos.
- Inflamações de pequenos vasos que causam lesões avermelhadas e dolorosas na palma de mãos, planta de pés, no céu da boca ou em membros (braços e pernas).
- Febre (sem sinais ou confirmação de infecção), emagrecimento e fraqueza
- Sintomas oculares, aumento do fígado, baço e gânglios também podem ocorrer em fase ativa da doença.

Cuidados

- Evitar exposição à luz solar e outras formas de radiação ultravioleta
- Evitar o uso de anticoncepcionais e estrógenos
- Evitar a gravidez em fase ativa da doença 
- Controlar o estresse
- Manter a constância no tratamento


Fonte: Sociedade Brasileira de Reumatologia

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